3 de setembro de 2007

Poesia Invejosa

Thiago Kalu

Hoje, vou transformar um poema num quadro.
Com olhos, pele e boca.
Talvez as cores não combinem,
Os versos não rimem, a tinta acabe,
Eu me canse, volte ao chuveiro
E o líquido desabe.

Hoje, de qualquer forma, o poema será um quadro.
Essa é a minha vontade.
Não confunda as artes! – nulas vozes, as que ouço.
Quero pintar minhas pausas,
Meus acentos, meus efeitos, meu poço e minhas causas.

Hoje, apenas hoje.
Amanhã, só sei que voltarei ao chuveiro.

Mas aquela água fria amedronta as manchas do meu corpo,
E elas agarram-se à minha pele,
Como o momento que procede ao escorregão do alpinista.
Se o colorido do quadro se formar dessas impurezas da cápsula,
Minha arte será barro, casa marrom de um velho ao meio.