23 de março de 2010

Jogatina Humana

Thiago Kalu
Na graça do convívio coletivo,
Ainda não aprendi a lidar com as possibilidades,
Com as incertezas que a fartura de opções cria e, por vezes, perpetua.

Dinheiro ou tempo?
Mar ou mato?
Vivo ou morto?
Reto ou torto?
Fora ou dentro?
Borda ou centro?
Noite ou dia?
Vinho ou chá?
Uva, pêra, mangaba ou cajá?
Júlia, Marta, Camila ou Maria?

Já não me basta atender aos instintos,
Gritos pavorosos – desesperados – da carne,
Que soam nas veias
E esbarram em poucas partes do corpo.

Ando visivelmente abalado pelos contra-tempos
Que, insistentemente, vêm na hora errada.
Não que eu planeje nada
Ou faça investimentos.
Tudo - em mim – são pensamentos.

As ilusões são fartas;
As multidões são muitas.
Esconderam as melhores cartas,
Mas todos parecem desatentos:

O colecionador de formigas,
O jogador de futebol da Nigéria,
O dono da boca,
O treinador de focas,
A professora de história baiana,
O construtor da via férrea.

Todas as peças se movem como num jogo de tabuleiro.
Escapo ao risco de ver meus dados
Pelo jogo inteiro
Nas mãos de um só Deus,
Por mais que o manual da jogatina humana
Assegure o mal a toda alma profana
- dos pagãos, dos agnósticos e dos ateus.

Ai, mundo nosso composto de nadas,
Dá-nos, hoje, um conto de fadas
Em que nasçam Gonzagas, Fellinis, Pessoas...

3 comentários:

Aline disse...

...e nesse mundo de incertezas, fartura de opções, ilusões e conto de fadas, buscamos a felicidade. Lindooo adoreei!!!

Amanda Rosa disse...

adorei seu jogo de palavras, só assim pra ver o que tu escreve.
estarei sempre por aqui agora.

FlaviaGonzalez disse...

Muito bacana seu blog Kalu, até breve
bjs