26 de maio de 2010

A Pedra no Centro da História


Naquelas ruas de paralelepípedos,
meninos levavam nos bolsos
um punhado de pedras pesadas.

Eram tempos estúpidos
de cartões postais distorcidos
com seus casarões invadidos
por pedras levadas.

A cada arremesso,
um moleque travesso
soltava uma risada daquelas
e achava bom ver janelas
e portas fechadas
abertas por belas vidraças quebradas.

Sentavam na escadaria da igreja da praça
e olhavam o bonde passar
fazendo fumaça
calmamente por cima dos trilhos.
Encostavam a cabeça
no chão da calçada,
deitavam sem pressa
e dormiam tranquilos
debaixo dos anjos
- meninos de pedra -,
crianças sagradas...

Hoje, nas mesmas ruas pedregosas,
meninos um tanto maiores
carregam consigo pedrinhas menores
e mais perigosas.

Por discrição,
evitam andar em bandos
e, já que não há mais o bonde,
com o cigarro aceso na mão,
fazem, eles mesmos, a própria fumaça
e fingem olhar para os carros.

Já não deitam perto dos anjos –
assustadoras estátuas.
Talvez, a culpa seja da pedra
ou da própria história da pátria.