meninos levavam nos bolsos
um punhado de pedras pesadas.
Eram tempos estúpidos
de cartões postais distorcidos
com seus casarões invadidos
por pedras levadas.
A cada arremesso,
um moleque travesso
soltava uma risada daquelas
e achava bom ver janelas
e portas fechadas
abertas por belas vidraças quebradas.
Sentavam na escadaria da igreja da praça
e olhavam o bonde passar
fazendo fumaça
calmamente por cima dos trilhos.
Encostavam a cabeça
no chão da calçada,
deitavam sem pressa
e dormiam tranquilos
debaixo dos anjos
- meninos de pedra -,
crianças sagradas...
Hoje, nas mesmas ruas pedregosas,
meninos um tanto maiores
carregam consigo pedrinhas menores
e mais perigosas.
Por discrição,
evitam andar em bandos
e, já que não há mais o bonde,
com o cigarro aceso na mão,
fazem, eles mesmos, a própria fumaça
e fingem olhar para os carros.
Já não deitam perto dos anjos –
assustadoras estátuas.
Talvez, a culpa seja da pedra
ou da própria história da pátria.