30 de maio de 2011

Era Ótica

Do contorno das ancas
À cor do cabelo;
Dos detalhes da fala,
Ao riso de apelo.
Arrepia meu pêlo
E minha boca se cala.

A porta se abre
Num deslizar aquoso,
Orgânico,
Verdadeiro,
Natural do cio
- Escorregadio -,
Inteiro,
Estreito e dinâmico,
Permissivo e amistoso,
Onde tudo cabe.

E num momento mágico
O personagem fálico
Arranca gemidos insanos
Por cima dos panos,
Por baixo dos panos...
E então, apaixonados,
Enrolamos os cursos dos anos
E deitamos os sonhos e planos
De lado.

28 de maio de 2011

O Gosto da Vida

A tua boca me parece um templo
onde perco a noção do tempo,
atando todos os nós da saliva.

Na quentura da tua língua,
mesmo quando a lua míngua,
a noite é leve, longa e viva.

É a boca que xinga,
que come
e que bebe
[que me bebe],
liquid’omem
no mundo moringa.

Ao sentir o gosto da vida
teu rosto engravida
um instante risonho
em que sempre me ponho
numa dose desmedida.

2 de maio de 2011

Cinzas Luminosos

Nos últimos compassos
Dessa nossa relação morrediça,
Eu te peço que não desperdice
O resto de amor que nos sobra
E a sombra de amor que nos resta.

Se ainda houver destroços
De qualquer paixão movediça,
Eu tropeço no vão do que disse
E testo o tempo que dobra
O texto que trago na testa.

Eu te amo

[Nos clarões aguardados
entre os dias mais chuvosos].

Eu te amo

[Em tons mais demorados
que os Cinzas Luminosos].

Eu ainda te amo.

[Em suspiros aliviados
pela leveza de Manoel de Barros].

Eu ainda te amo

[Alheio ao passar e pensar do tempo;
indiferente ao buzinar dos carros].