26 de outubro de 2011

Rebarba de um Velho

Na juventude,
fui um jovem de atitude;
hoje, na maturidade,
um idoso sem idade.

Na minha longa trilha,
aprendi que fervilhar
é ferver a ervilha
e que lentilha
não é comida de velho.

Enxerguei mil maravilhas
na sorte do baralho,
nos amores da novela
e na terapia do novelo;

em ter a pia e a navalha,
que desliza e arranca
minha lisa barba branca,
onde a espuma se espalha

e apruma cada falha
encontrada na carranca
repelida pelo espelho.

Após o atrito da toalha
tricotada pela velha,
o franzir de sobrancelha
do meu riso me consola.

Enquanto me olho,
a memória mergulha
- entre tralhas e entulhos -
numa velha redondilha
que escrevi a minha filha:

Sabedoria é saber que a dor doía
E entender que qualquer dia
Quase toda dor se esvai
E a saudade se desvia,
Mesmo quando a chuva cai
Numa triste melodia.

Deus que me valha!
Será que o tempo
armou alguma armadilha
ou será que nem eu mesmo
escutei o meu conselho?

2 de outubro de 2011

Saudade sem rima

O sentimento de cólera
e o sofrimento de véspera,
tudo é humano.

A lei do preço e da pressa
e a divina promessa,
tudo é humano.

O urânio enriquecido,
o crescimento acelerado,
o desespero inesperado,
o coração endurecido,
tudo é normal
para o ser humano.

Estranha mesmo é essa saudade sem rima,
que nem bóia nem afunda,
nem chove nem muda o clima,
e que ainda
faz a hora
parecer um ano.

A Maré Cheia


Em Amaralina,
o Mar é o cantor da madrugada
e, em qualquer lugar, nad’é melhor que amar.