4 de março de 2015

Poesia Pura

Quando escrevo,
evito rasura.

Todo traço passado sobre o crivo do escrito
reveste o ato inexato
de fato desdito.

Deletério.
Aborto no verso.
Versuicídio.
Risco grafofágico
da caneta esferopata.

Chacina da estrofe inocente.
Refluxo de pensamento.
Arrependimento perverso.
Troféu da edição.
TraZdição da LEItura.

Quando escrevo,
rejeito rasura.

Sou dado às profundidades.

Mergulho de peito aberto
e escancaro...
                           o coração.

Navego serenamente entre faltas e sobras.

Alço velas nos intervalos.
[ACENDO SUAS NUANCES]

Nado nas entrelinhas.
Velejo a vida a olho nu.
Contemplo minhas tempestades.
Tempero as intempéries.
Respiro calmarezas.
Marino amarguras.

Não enjoo no mar. Não enjoo do mar.

O mar é meu dicionário.
Puxo rede de arrasto
em pesca noturna
e saio cheio de saliteraturas.

Quando escrevo,
recuso rasuras.