26 de janeiro de 2016

(S)

O amor é matéria do verbo amar.

É o ato em si.

É não se conter em substantivo.

É substanciar-se
em meio a catarse
e matar-se
e ressuscitar sucessiva
e incessantemente
entre si

e o(s) outro(s)

(s)em nó(s).

20 de janeiro de 2016

Quase Quanto

Tenha sonhos quase
tão lindos quanto
seus olhos.


Vou

Sou sumo
se você me bebe
e se não me come
SUMO
evaporo se não me consome
vã mercadoria sem rumo.

Propago de graça os versos que gozo.

DESENGAIOLO

Sem meio termo. Sêmen do verbo.Sou ave dispersora.

SEMEIO.  Semeio. SEMEIO
 Suave. SOUAVE.  Suave
                VOU

E no meu voo leve
levo tudo aquilo que sou
por cada canto
dessa estratosfera.

Fera solta
em feira livre
vocifero versos mansos
só pra ver se  alcanço
seus ouvidos escorregadios
com meu poema descalço
e piso em seu peito frio de assalto
e espalho estrofes de afeto
e estraçalho as raízes desse descaso

e planto nova poesia
mesmo num terreno infértil
mesmo a quem me evita
o POUSO.

Temporal

Maria,
menina da mata,
do rio, da rocha,
do barro e do céu.

Seria pássaro aninhado
no aconchego dos teus olhos.

Viveria contigo
qualquer coisa sem regras,
sem planos e sem remorsos.

Não temeria
nem a despedida,
nem a tempestade
nem as trovoadas...

Eu te amaria, Maria,

se fosse tempo de amores.

Nosso encontro iria...
                                  protelado
                  preterido

                  semente inaugural
do pretérito futuro

sentimento sem tempo

substrato real.

Sem Telha

Estou sentado à beira da praia
num banco de madeira de um casebre.
Tenho vinte e nove anos e estou prestes
a escrever um poema de amor.

Qualquer poema que valha
minha presença calada
nesta cabana de palha.

Relembro canções incompletas.
[Centenas].
Estrelas deslizam cadências.
[Centelhas].

Desligo a lanterna
e começo o poema.
Três passos à frente
e o céu é meu teto sem telha.

Poesia sem palavra.
Versos afogados no imaginário.
Este momento faminto,
este silêncio sedento,
e a boca do mar engolindo meu vocabulário.

CONCLUA:
já que a gente estremece
COM QUALQUER LUA,
como pode a saudade ser tão redundante?