Tudo que sei
aprendi com a rua.
Carinho em cachorro livre,
o temperamento das cartas,
a razão das marés,
a facilidade dos edifícios subirem mil pés...
- Caminhando que vi.
Descobri que somos capazes de tudo,
que a diferença da demência pra ciência
descansa
no uso que se dá ao tempo.
Percebi que pássaros pousam nos fios
e não se incomodam com as meninas se beijando no frio
com seus vibrosos batons vermelhos,
nem com os rapazes se amassando
com doçura e vigor.
- Que as barbas se
rocem!
- Que as moças se toquem!
Pássaros são
evolução
no assovio
do óbvio.
A cidade não tem muitos ninhos
e o asfalto tem um sabor estranho.
Tudo que sou
entendi com a lua.
Máquinas não fazem chuva.
Não se fabricam cachoeiras,
nem corais, nem cânions.
Nada congela o desejo.
Não tem filtro que retenha
as impurezas do ego.
- É sério,
caminhando que vi.
Por vocação natural,
somos andantes,
mas viramos autozumbis
metalizados e nojentos
e nos comemos em cruzamentos
mal sinalizados.
Feito epidemia
espalhamos ferrugens,
mergulhamos em rótulos,
vivemos em rótulas...
Motoqueiros barulhentos
são seres violentos
e quem trabalha no trânsito
mal sabe que segue em transe
numa ânsia mortal
que atrapalha
e agoniza.
- A hora da brisa,
foi andando que vi.
Tomei sol na moleira,
conversei com drogados,
visitei museus,
questionei taxistas
em trajetos longevos.
Aprendi a admirar a concentração de um malabarista,
conheci pastores honestos,
pisei em chão maranhoso
e a cidade não tem muitos ninhos.
O capitólio polui pensamentos,
dificulta a fluidez das vivências,
aterroriza o orgânico,
necessarializa o banal,
fere,
interfere tanto
que até o riso
aterrissa
em emoções rasas.
Tudo que vou,
é de um corpo que
sua.
Decoro cada esquina.
Canto pelas alamedas.
3 comentários:
De uma fluidez linda! Das coisas de quem observa e caminha atento. Parabéns, tio! :)
incrível...
Belíssimo!
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