meninos levavam nos bolsos
um punhado de pedras pesadas.
Eram tempos estúpidos
de cartões postais distorcidos
com seus casarões invadidos
por pedras levadas.
A cada arremesso,
um moleque travesso
soltava uma risada daquelas
e achava bom ver janelas
e portas fechadas
abertas por belas vidraças quebradas.
Sentavam na escadaria da igreja da praça
e olhavam o bonde passar
fazendo fumaça
calmamente por cima dos trilhos.
Encostavam a cabeça
no chão da calçada,
deitavam sem pressa
e dormiam tranquilos
debaixo dos anjos
- meninos de pedra -,
crianças sagradas...
Hoje, nas mesmas ruas pedregosas,
meninos um tanto maiores
carregam consigo pedrinhas menores
e mais perigosas.
Por discrição,
evitam andar em bandos
e, já que não há mais o bonde,
com o cigarro aceso na mão,
fazem, eles mesmos, a própria fumaça
e fingem olhar para os carros.
Já não deitam perto dos anjos –
assustadoras estátuas.
Talvez, a culpa seja da pedra
ou da própria história da pátria.
9 comentários:
Simplesmente MARAVILHOSO!! Indescritível!!!
Você é incrível! Definitivamente!
tô barbie na caixa!
MUITO BOM. MAS SE VC RELER PODE SE PERGUNTAR: OS DOIS ULTIMOS VERSOS ESTAO NA ALTURA DE TODOS OS QUE OS ANTECEDERAM? NAO E FACIL CONSEGUIR O DESFECHO DE TODO O CONTEUDO EM APENAS DUAS FRASES. ALEM DA RESPONSABILIDADE DE CONCLUIR A RIMA, A METRICA, TAMBEM RECEBERAM A CRUZ DE CULPAR OU DESCULPAR.
ENFIM, OBSERVACOES, COMO TAIS, SUBJETIVAS. PARABENS
Cantor-poeta, poeta-cantor
Seja como for, és encantador!
Muito bom, impactante!
vc usa trema?!?!?!?!
Pois é, retratista da evolução social urbana desta virada de milênio: depois de tanto progresso, chegamos à nova Idade da Pedra. Mas esta não é Lascada nem Polida, é Queimada! Um abraço, mermão!
Da pedra ou da pátria, me diz: E o que a gente faz???
Muito bom, gostei muito, que bela surpresa, cm cheguei aqui não sei...rs! Mas fiquei!
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