3 de setembro de 2007

Poesia Invejosa

Thiago Kalu

Hoje, vou transformar um poema num quadro.
Com olhos, pele e boca.
Talvez as cores não combinem,
Os versos não rimem, a tinta acabe,
Eu me canse, volte ao chuveiro
E o líquido desabe.

Hoje, de qualquer forma, o poema será um quadro.
Essa é a minha vontade.
Não confunda as artes! – nulas vozes, as que ouço.
Quero pintar minhas pausas,
Meus acentos, meus efeitos, meu poço e minhas causas.

Hoje, apenas hoje.
Amanhã, só sei que voltarei ao chuveiro.

Mas aquela água fria amedronta as manchas do meu corpo,
E elas agarram-se à minha pele,
Como o momento que procede ao escorregão do alpinista.
Se o colorido do quadro se formar dessas impurezas da cápsula,
Minha arte será barro, casa marrom de um velho ao meio.

6 de maio de 2007

Volta e Meia

Thiago Kalu

Antes que eu repita as mesmas emoções passadas,
Atirem-me razões.
Gritem aos meus ouvidos qualquer palavra cheirosa,
Que eu mudo as velas
E deixo a lua por lá mesmo.

Guardem o respeito sob o tapete,
Deixem a chave do lado de fora da porta e, sem ladear quarteirões,
Nunca comprem flores.
Reordenem as fotos na estante
E não chorem lágrimas piráticas
Quando, intimamente, os ecos e escolhas irrigam nostalgias.

Antes que eu envelheça,
Retirem-me do sobrado.
Tragam-me um pouco de mel e algumas cordas,
Que eu desço do barco e busco o inacabado,
Sendo tudo, quase tudo, ou muito daqui, ali e além,
Música exata perto de mim.

Não comam apenas a casca da manga,
Nem usem roupas de pele animal.
Passem um dia nas cavernas.
Economizem palitos de picolé,
Sem priorizar o miolo do pão.
Acendam uma outra luz, utilizando pavios,
Mas também não queiram ser morcegos.

Os sentimentais evitam as estantes.
Eles conhecem o pináculo do campo, o medo,
A retidão, a censura e um pouquinho da mentira.
Correm pela areia da praia,
Buscando o verso da folha em branco,

Mas nunca devem comprar flores.