15 de outubro de 2013

A Coruja não quer Pombo-sujo

A poesia tem orgasmos quando desce a madrugada.
Nada carece mais de silêncio.
Nem o sono do cão.
Nem meditação.
Nada.

Da minha janela, eu avisto a coruja
despida num traço lento.
Voa como quem vigia
o vento.

De hora em hora passa um carro.
Penso em voltar a fumar.
Esparro.

Seria bom caminhar por aí.
Ir.........................?

A madrugada é foda
e a gente só não goza porque a cidade é perigosa.

16 de setembro de 2013

Teoria da Cooperação

Duas palavras
não ocupam
o mesmo lugar na poesia.

Dois sabores
não ocupam
o mesmo lugar na língua.

Dois pedidos
não ocupam
o mesmo lugar na oração.

Dois amores ocupam
o mesmo pulsar de um coração.

Ilusão

A decepção
não decepa
a ação.

13 de agosto de 2013

Até que a memória desande

A lembrança revisa
a hora sofrida
e chora.

[É a dor
tomando
forma]

A lágrima desliza
pela pele pálida
e para.

O lábio pressente
a tristeza húmida
da gota morna

e avisa
ao restante da boca
o pesar daquela brisa
cálida.

A língua levanta
e logo localiza
aquele gosto de angústia.

A boca trepida,
renova a saliva
e se livra do sal.

[Mas dá
um nó
na garganta]

Acontece
que quando a saudade
é muito grande
o gole não desce
até que a memória desande.


2 de abril de 2013

Quase Sempre


Qualquer amor a mais
quase sempre nos traz
dias amenos.

Calendários Rasgados


Eu te amo com as mãos,
com a voz, com os olhos
e com tudo o que eu possa chamar de meu corpo,
no concreto, no físico,
na carne, em pelo...

Eu te amo na poesia,
no futebol e nos sonhos;
em cada canção que eu ouço e gosto
ou num simples gole
de Coca com gelo.

Eu te amo com a magia de vidas passadas
num pretérito infinito;
num presente de calendários rasgados
a cada momento bonito.

Contigo, morena,
eu me deito em qualquer futuro
esparramado num anoitecer

onde eu possa te acolher
num abraço lento e seguro
de uma vida serena.

18 de março de 2013

Quarteto Desconfigurado


Se o passado
se fizer presente,
vá com ele do lado,
                                   mas continue olhando pra frente.

No Clímax


Só é difícil virar a página
quando não se imagina que haja
algo melhor no restante da história.

8 de março de 2013

Vai ter sempre vaidade, mesmo que a idade vá


I [Que esse banho seja diário]


Toda mulher
vive melhor
ao se molhar

de igualdade,
respeito
e amor.


II [O mais doce território]


Ela
é
o elo

entre
o dentro
e o fora,

entre o antes,
o depois
e a demora.

É o primeiro leito,
a primeira morada,
o primoroso alimento.


III  [E não ria, não, que o assunto é sério]


Lugar de mulher,
é onde ela quiser
e em qualquer momento.

7 de março de 2013

Sempre Que a Saudade Aperta


Tudo nela me excita:
o cheiro, a dança,
a autoconfiança:
e até mesmo o sotaque
do interior paulista.

Teve-me nas mãos
em dias de verão
e seria meu chão
em tempos de inverno,

mas vai embora,         
separando nossos banhos
de mar
e a possibilidade dos sonhos
de amar.

Ela parte
pelo espaço da porta
que deixei entreaberta

e eu faço rimas fáceis
com nuances do seu nome
sempre que a saudade aperta.

Jura que temos uma estrela...

Eu acredito
e consigo vê-la.

Juliana


É palavra tão doce
que eu sempre achei que fosse
um derivado seivado da cana.

4 de fevereiro de 2013

Sem Ótica


O sentimento existe antes de qualquer linguagem
e é por isso que não conseguimos
explicar certas coisas que sentimos.

Colocando no Papel



Seus olhos doces, menina,
afetam-me mais
que anfetamina.

Para Janaína


Tire o mar!
Tire o mar!
Tire o mar!
Tire o mar de lágrimas desses olhos!

Tire o mar!
Tire o mar!
Acabe com esse martírio!


14 de janeiro de 2013

Quase a esmo


Meu tempo,
eu meço
em risos.

Em juízo,
não contabilizo
nada além do que peço

e reconheço
                se há excesso
                                   ou se preciso.

Meus instantes
se dão
por espasmos,

quase a esmo,
em si mesmos,
em transpiração,

em pedaços de pão,
                           em cinemas,
                                            em orgasmos...

Meu relógio
é esse mundo
pirado

pendurado
              na parede
                            do universo.

Meu corpo
é um ponteiro
sem conta

que aponta
               sem pressa
                              sempre que eu desejo.      

- É por isso
que o tempo não passa
quando eu lhe beijo.