30 de dezembro de 2015

O Resto é Bobagem

Seus olhares pervertidos,
seus instantes perversos,
seus instintos gentis...
Poesia nos gestos.

Uma carta de ardor
escrita ao molho pardo
na janela de barro.

Córregos lambuzados pela pele lambida.
Mítico tratado lingüístico.
Gosto de mar.
Gosto de amor.
Desejo e sabor.

A vida é mesmo uma viagem.
Dirija seus atos,
que o gesto é bagagem.

21 de dezembro de 2015

In Off

De repente

o ar da cidade tem gosto
de repelente

e eu aposto
que só quem não sente
é o frentista do posto.



16 de dezembro de 2015

Toco

Pinto
palavras em pausa
pra lhe encher de saliva,
silêncios virgulares
no leito da leitura ativa.

Meus versos tem gula de fala.

Meus poemas tem mãos livres.

Eu escrevo com a boca

e você goza
sobre a minha
oralidade.

9 de dezembro de 2015

Devaneio

Todo delírio
tem um dê
de divino.

Transcender é ter ânsia
de ancestralidade,

é reconfigurar a existência
e estreitar os elos da percepção,
da emoção e da coletividade,

é fritar o pudor com escama e tudo.

Quem devaneia escala os limites da sensibilidade
e semeia outros usos
às habilidades já adquiridas.

O insano
é o maior
dos careticidas.

30 de novembro de 2015

25 de novembro de 2015

Fissura

Garotos magros
de bocas secas
buscam sacos
e sacolas
de balas
e balelas
entre farpas e flarpelas
nos becos das baixadas.

23 de novembro de 2015

iMundos

Lama, lama, lama.
Lama, lama, lama, lama.

A bosta nossa
em metal pesado.
Sem filtro.
Meus olhos doem.
A poesia sangra.

Lama, lama,
lama, lama.

O capital despejando imundices.

Zero zelo.
Selo de desqualidade.
Descuido.
Desequilíbrio. Lama. Desastre.

O mundo anda tão sujo
que não sei se falo

ou se pulo. 

19 de novembro de 2015

Química

Se o toque diz mais que as palavras
e os olhos sugerem que a boca se cale,

apenas não fale.

14 de novembro de 2015

Tolerância

Cada corpo tem
uma química

e suas demandas derivam
do que há de singular
em cada organismo.

Isso influencia
                           no que há de carência
           e no que lhe sacia

e cria
           raízes e laços estreitos
                                                    com todos os frutos da experiência,

desde tudo aquilo que comemos
- os mínimos hábitos -

aos caroços traumáticos e transparentes da infância
que florescem mais na frente
naquilo que chamamos
personalidade.

9 de novembro de 2015

Duro

Reparo em cada gemido do vento.
Respiro.

Deliro.
Declamo quenturas no inverno.
Amo.
               
Amolo pensamentos cegos
à fio.

Confio em cada instante
ínfimo.

Firme
como a terra
que mesmo
quando treme

permanece.

31 de outubro de 2015

Borboleta

Atravesso minhas recordações
à nado

e vou dando braçadas e pernadas
pra nada

além de lembrar.

Não temo memórias bravias
e penso que águas passadas
são vias
do meu movimento.

21 de outubro de 2015

Transpiro

Choro
por todos os poros,

lacrimejo pelos pés,
evaporo,

transpiro agruras,

pedalo até o infinito
e espanto qualquer sentimento
que não mereça me ter como lar.


Trans

Vou me adaptar
às ruas.

Vou mandar pintar
sinais

por onde a vida continua...


20 de outubro de 2015

14 de outubro de 2015

Cinco Polegadas

Passeio na ponta
dos seus dedos ágeis.

Expande minhas margens.
Sou sua tela.

Touch me!
[Em busca das imagens
que as palavras semeiam neste poema sem foco].

Nas emoções sem contraste,
o maior brilho da noite,
o melhor quadro que existe.

Seu rosto em riste
de frente pra lente.
[Visão secular].

Seu verbo ocular
revela
meu vocabulário.
[Sou sua tela].

31 de agosto de 2015

Segunda Edição

Eu quero apagar os poemas que tu me trouxeste,
recusar cada suspiro de tuas inspirações.

Pretendo brigar com editoras,
tirar sites do ar,
voltar no tempo
e cancelar saraus maravilhosos.

Vou desfazer pedidos sinceros
às estrelas cadentes.

Neste momento reticente,
eu mudaria de nome
pra conseguir dormir,

eu trocaria de corpo

para dormir em paz.

22 de julho de 2015

Música

é celebração

do cérebro

ao coração.

É delírio corpóreo.
É deleite do ébrio,
cachaça do sóbrio.

Sensação
sem menção no dicionário.

Adentra os ouvidos,
dá água na boca,
dá nó na garganta,
excita os pulmões,

ressuscita
                   memórias
                                     cremadas,

concretiza saudades,

                                       traz
                     sentido
ao tempo.

29 de junho de 2015

Morada

Em primeiro lugar,

não existe lugar
nem espaço

melhor de dormir
que seu braço.

Em segunda instância,

não existe distância
nem mar

pra nos separar.

Maresia

Eu moro
de frente para o mar
e o salitre
se diverte
em minha casa.

11 de junho de 2015

Passeio Constante

Pinto paisagens praianas.
Atravesso rios, trilho areais, cruzo paralelas.

Vejo chão e água,
vejo mar e ilha
e a lembrança perene
do olhar de Marília.

Onde é que ela mora?
Quais mares  frequenta?
Tem menos de trinta?
Será que ela gosta de rap?

Visitaria sua casa pelo google map.
Ficaria vidrado na sua janela.

A lembrança perene...
O rio vazante...
A memória recente dos olhos dela.

Sinto a margem, a foz, a noite eterna...
Grudo minha caneta no caderno que carrego apoiado na perna
à procura do poema que já nasce pronto.
As estrelas preenchem o céu que transborda
e eu apenas aponto.

Durmo sob amendoeiras.
Repouso na incerteza.
Descanso no frescor da aventura.
Sua beleza duradoura,
seu cheiro dourado.
Minha memória viajante.
Um passeio constante naquilo que vejo.
Uma tarde em Sarajevo,
uma noite em Caraíva
e a lembrança perene do olhar de Marília.

5 de maio de 2015

Claríssima

Brilha
com suas curvas raras
a perfeita geometria.

Pousa
nas minhas taras.
Arrebata-me.

Mexe com minhas águas.
Deixa meus lábios úmidos.
Desentimida
pensamentos íntimos.
Terremota-me.

Brilha clara
e o tempo paira
em acrobacias risonhas.

Passeia na minha insônia.

ME NINA.

Reside na graça das horas.
Demora na minha memória,
Claríssima.

4 de março de 2015

Poesia Pura

Quando escrevo,
evito rasura.

Todo traço passado sobre o crivo do escrito
reveste o ato inexato
de fato desdito.

Deletério.
Aborto no verso.
Versuicídio.
Risco grafofágico
da caneta esferopata.

Chacina da estrofe inocente.
Refluxo de pensamento.
Arrependimento perverso.
Troféu da edição.
TraZdição da LEItura.

Quando escrevo,
rejeito rasura.

Sou dado às profundidades.

Mergulho de peito aberto
e escancaro...
                           o coração.

Navego serenamente entre faltas e sobras.

Alço velas nos intervalos.
[ACENDO SUAS NUANCES]

Nado nas entrelinhas.
Velejo a vida a olho nu.
Contemplo minhas tempestades.
Tempero as intempéries.
Respiro calmarezas.
Marino amarguras.

Não enjoo no mar. Não enjoo do mar.

O mar é meu dicionário.
Puxo rede de arrasto
em pesca noturna
e saio cheio de saliteraturas.

Quando escrevo,
recuso rasuras.

13 de janeiro de 2015