22 de outubro de 2012

Faxina



Não existe
nada mais triste
que um coração empoeirado.

Por onde o amor,
sentimento espanador,
há tempos não tem passado.

Com o peito tão desarrumado,
é bem provável 
que sua sina
frágil e móvel
necessite de uma faxina.

Sacuda, sacuda, sacuda,
desinfete os desafetos,
esfregue as dores,
levante a cabeça
e se oriente.

Dê uma geral nos seus hábitos,
escove bem os desejos
e cante

[melodias acumuladas
pegam mofo com qualquer chuvinha].

27 de setembro de 2012

Sexteto da Saudade Sem Teto


Para Thiago Marinho
  
Onde o braço d’amnésia não alcança
eu traço nossas toadas e lembranças
com sentimentos em caixa alta
que me fazem sentir tua falta
e conectam as linhas da nossa história
tatuadas no céu da minha memória.

21 de maio de 2012

A Dança da Noite


A noite dança pelo espaço
com seu vestido escuro
de estrelinhas tão brilhantes

quase no mesmo compasso
que o presente e o futuro,
nas entrelinhas dos instantes.

O poeta vê aquele espetáculo
e entende que não há obstáculo algum
entre a dança da noite e a poesia
que ele mesmo escreveria
ou que escreveria qualquer um...

Mas é preciso escrever

antes que a noite se canse
e o clarão do sol apareça
ou que o céu se entristeça
e num simples relance

comece a chover.

Nunca é Tarde pra Pedir Desculpa


Sei que isso já não lhe preocupa
e o quanto a vida nos ocupa,

mas nunca é tarde pra pedir desculpa.

Afinal,
amores passados
não são
paletós amassados
para serem largados
nesse descaso férreo.

Vai que,
entre os sentimentos amarrotados
e os pensamentos descabidos,

o tempo passa,
a vida nos dobra
e o perdão costura
com lisura e ternura
os rasgões da história...

8 de abril de 2012

Diversos Domingos Depois


Como se não bastasse o fato
de teu cheiro
ter invadido meu olfato
e permanecido
como inspiração,

daquele domingo até agora
eu me beiro
lembrando da tua risada
e isso melhora
minha respiração.

19 de março de 2012

Distanciado



Tenho sonhado tanto contigo
que o tempo qu'eu passo dormindo
tem sido mais divertido
que tudo qu'eu faço acordado.

14 de março de 2012

4 de março de 2012


TER PACIÊNCIA
é usar a pá
da própria ciência
e cavar para si
um poço de paz.



A-m-o-r-t-e-c-e-d-o-r


O amor tece
a teia das horas serenas
e amortece
a ausência da lua
nas noites de inverno.


O Nosso Poema de Amor Reticente

Todos os meus escritos
são feitos
para você

e eu ainda insisto
porque acredito
que você me lê...

Essa poesia

por exemplo

também é sua

e você não tem tempo a perder
com vírgulas ou com parêntesis
ou com pontos e vírgulas
ou com dois pontos
ou com qualquer et cetera
seguido de reticência...

Nem sei se você terá
a necessária paciência
e o bom humor
de ver com alegria
nessa estranha versaria
o nosso poema de amor

mas antes de se
ou me perguntar
por que não fui direto ao ponto

peço que se lembre
que a poesia também é sua

e que ela acaba
e a vida continua
ou que a vida acaba
e a poesia continua

transando nossas almas nuas...