6 de maio de 2007

Volta e Meia

Thiago Kalu

Antes que eu repita as mesmas emoções passadas,
Atirem-me razões.
Gritem aos meus ouvidos qualquer palavra cheirosa,
Que eu mudo as velas
E deixo a lua por lá mesmo.

Guardem o respeito sob o tapete,
Deixem a chave do lado de fora da porta e, sem ladear quarteirões,
Nunca comprem flores.
Reordenem as fotos na estante
E não chorem lágrimas piráticas
Quando, intimamente, os ecos e escolhas irrigam nostalgias.

Antes que eu envelheça,
Retirem-me do sobrado.
Tragam-me um pouco de mel e algumas cordas,
Que eu desço do barco e busco o inacabado,
Sendo tudo, quase tudo, ou muito daqui, ali e além,
Música exata perto de mim.

Não comam apenas a casca da manga,
Nem usem roupas de pele animal.
Passem um dia nas cavernas.
Economizem palitos de picolé,
Sem priorizar o miolo do pão.
Acendam uma outra luz, utilizando pavios,
Mas também não queiram ser morcegos.

Os sentimentais evitam as estantes.
Eles conhecem o pináculo do campo, o medo,
A retidão, a censura e um pouquinho da mentira.
Correm pela areia da praia,
Buscando o verso da folha em branco,

Mas nunca devem comprar flores.